A essência do Jiu-Jitsu, segundo Eduardo Raschkovsky

Uma conversa franca com o faixa-vermelha-e-branca, de 68 anos, radicado em Israel, que viaja pelo mundo propagando a filosofia do Jiu-Jitsu em seminários concorridos.

“O Eduardo é uma pessoa que ajudou o Jiu-Jitsu a crescer. Uma honra diplomá-lo como faixa-vermelha-e-branca”, disse Joe Moreira, no dia 9 de outubro, em cerimônia no Rio de Janeiro. No início do ano, foi o grão mestre Fernando Pinduka quem amarrou a graduação vermelha-e-branca na cintura de Eduardo, evocando lembranças dos velhos tempos da escola Carlson Gracie. “Sou da velha guarda”, diz Eduardo, com orgulho. “Uma geração que entendia o Jiu-Jitsu como ‘arte da guerra’”.

O ano de 2024 foi muito especial para você, tendo em vista a sua graduação como mestre faixa-vermelha-e-branca, pelas mãos do grão mestre Fernando Pinduka, num evento que contava com a nata da escuderia Carlson Gracie…
EDUARDO RASCHKOVSKY: Eu me sinto muito honrado por tudo que aconteceu. Na sequência, ainda fui diplomado pelo mestre faixa-vermelha Joe Moreira. É inevitável que passe pela minha cabeça um breve filme da minha história no Jiu-Jitsu. Comecei a treinar cedo, com sete, oito anos de idade, na escola Carlson Gracie, quando a academia ainda funcionava na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Fui até a marrom com o Carlson, até que minha família se mudou para a Barra da Tijuca e eu acabei me transferindo para a escola do Carlinhos Gracie. Cheguei a ter a chave da academia, pois eu treinava muito, sempre estava lá, buscava os primeiros horários, sempre fui um obcecado pela arte suave. Não tinha carnaval. Não tinha feriado. Eu estava sempre lá, de domingo a domingo. Dava aula para crianças, gostava de ensinar, de transmitir conhecimento.

Foi nessa época que você aprendeu a filosofia que tanto defende, o Jiu-Jitsu como “arte da guerra”?
Na minha época era muito difícil um aluno conquistar a faixa-preta. Era algo fora do normal, bem diferente de hoje em dia. O sujeito não era praticante, era um lutador. Treinos muito puxados, ritos de passagem. Uma época em que pude dividir o tatame com verdadeiras lendas da nossa arte marcial, como o Carlson, Pinduka, Rilion, Renzo, os irmãos Machado, entre tantos. Para você prosperar no Jiu-Jitsu naquela época era preciso ser um fanático pela arte marcial e sou assim até hoje, aos 68 anos. Sigo treinando muito forte. Treino com a garotada e, modéstia à parte, não faço feio. O Jiu-Jitsu é a verdadeira fonte de juventude. O meu fanatismo pelo Jiu-Jitsu alimenta a minha alma, o meu espírito, eu não vivo sem isso. O meu ser não funciona sem o Jiu-Jitsu. Minha disciplina em treinamento físico, em alimentação saudável. Treinos de isometria, treinos aeróbicos… Sou o resultado disso tudo. Sei jogar com o meu peso (105kg) e com a minha idade. Uma vida de paixão louca pelo Jiu-Jitsu. Pelo estilo de vida de um lutador. Um lutador do bem, claro! E vale dizer que ainda me formei faixa-preta de karatê, condecorado pelo professor Getúlio da Ilha, e também faixa-preta de judô, pelas mãos do sensei Oswaldo Alves.

Hoje você mora em Israel. Como você vive o estilo de vida do Jiu-Jitsu por lá?
Sim, moro em Israel, mas viajo pelo mundo dando seminários. Aprendo muito ensinando nos seminários. É muito interessante perceber como o Jiu-Jitsu se adapta bem em qualquer cultura. Israel é um país conhecido por suas preocupações com a segurança e defesa pessoal, e o Jiu-Jitsu se mostrou um complemento perfeito para as artes marciais que já fazem parte da cultura local. Durante o treinamento, faço questão de destacar como o Jiu-Jitsu é extremamente eficiente para neutralizar um oponente, independentemente do tamanho ou da força, utilizando técnicas de alavanca e controle corporal. Israel tem tudo para se tornar um polo de Jiu-Jitsu no Oriente Médio. A dedicação dos atletas e a estrutura que estão construindo mostram que eles estão prontos para levar essa arte marcial ao próximo nível.

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